Por Paulo Franchetti


Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (1884-1914) nasceu na Paraíba e faleceu em Minas Gerais. Formado em Direito pela Faculdade do Recife, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde seguiu a carreira de professor, e, algum tempo depois, para Leopoldina, em Minas Gerais, onde faleceu aos trinta anos de idade.

Um dos mais originais poetas brasileiros, é também um dos mais populares, sendo seu único livro de poemas, acrescido de textos que não figuraram na primeira edição, um dos poucos sucessos de público e de crítica no Brasil.

Sua poesia lembra, pelo gosto do prosaísmo e da notação objetiva, a do poeta português Cesário Verde. Já do ponto de vista da linguagem e do tratamento dos temas, é uma continuação da poesia científica do romantismo recifense, exacerbada pela herança da linhagem realista brasileira, cuja leitura de Baudelaire enfatizou o seu comprazimento no horrível e no repulsivo.

Anatol Rosenfeld, num estudo que se destaca na bibliografia do poeta, sublinha o ar de família que a poesia de Augusto mantém com a dos seus contemporâneos alemães, os expressionistas Georg Trakl, Georg Heym e, principalmente, Gottfried Benn. Acentua especialmente, embora descartando desde logo a possibilidade de que o brasileiro conhecesse a obra do alemão, a semelhança entre a poesia do Eu e a do volume de versos de Benn, publicado no mesmo ano de 1912, Morgue. O título desse livro, na sequência do ensaio, dá ensejo à caracterização precisa de todo esse veio poético, do qual participaria Augusto dos Anjos – por mera sincronia e origem comum em Baudelaire e no cientificismo do século, e não de derivação – como “poesia de necrotério”.

A poesia de Augusto dos Anjos consegue ser convincente e produzir efeito de discurso verossímil e pessoal, mesmo sendo articulada sobre o exagero sistemático dos traços do pessimismo de época e sobre a utilização a torto e a direito do vocabulário científico ou pseudocientífico do tempo. E é um testemunho da sua grande força o fato de ela poder ser lida com muito interesse ainda hoje, apesar de a sua forma e a sua linguagem chegarem a parecer, muitas vezes, a caricatura do que se produzira no último quarto do século XIX.

Sugestões de leitura:

PROENÇA, Manuel Cavalcanti. O artesanato em Augusto dos Anjos, em Augusto dos Anjos e outros ensaios. Rio de Janeiro/Brasília: Grifo/INL, 1973.

MAGALHÃES JUNIOR, Raimundo de. Poesia e vida de Augusto dos Anjos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.

ROSENFELD, Anatol. A costela de prata de Augusto dos Anjos, em Texto e contexto. São Paulo: Perspectiva, 1973.



Paulo Franchetti
é professor titular do Departamento de Teoria Literária da Unicamp.