Por Cristina Antunes


O Simbolismo, inicialmente chamado “decadentismo” – evidente referência à decadência dos valores estéticos da época –, surge na França, no final do século XIX, como um movimento eminentemente místico e individualista. Sua primeira manifestação na literatura brasileira aconteceu em 1887, ano da publicação de Canções da Decadência, de Medeiros e Albuquerque , diretamente influenciado pelo decadentismo francês. Mas a introdução definitiva do movimento simbolista no Brasil ocorre em 1893, quando João da Cruz e Souza publica seus livros Missal e Broquéis. O Simbolismo brasileiro, com fundamento universalista e correndo paralelo a outras correntes estéticas da época – o Realismo, o Naturalismo e o Parnasianismo –, caracteriza-se por uma expressão estética autônoma. Entre os simbolistas, é visível a preocupação com o aparato formal, o preciosismo da linguagem, a sonoridade das palavras. Na sua poesia, a forma cultivada é o soneto, embora com modificações decorrentes da nova estética, porém essa poesia pouco apresenta da realidade brasileira. A prosa simbolista caminha em duas direções: os poemas em prosa (como Missal e Evocações, de Cruz e Souza) e a ficção narrativa encontrada, por exemplo, em romances de Machado de Assis, Raul Pompéia, Gonzaga Duque, Graça Aranha, Lima Barreto. O Simbolismo permaneceu vivo até praticamente o advento do Modernismo, em 1922, e a estética simbolista foi a responsável pelo aparecimento de algumas das maiores figuras da literatura brasileira. Entre elas, destaca-se Cruz e Souza, um dos maiores poetas líricos do Brasil. O catarinense João da Cruz e Souza (1863-1898), filho de escravos, em eterno conflito entre a matéria e o espírito, com verdadeira obsessão pelos brilhos e pela cor branca, escreveu ao todo cinco obras, duas publicadas em vida, Missal e Broquéis (ambas em 1893), e três postumamente: Evocações (1898), Faróis (1900) e Últimos sonetos (1905).


Cristina Antunes foi curadora da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin e administrou a coleção de José e Guita por mais de 30 anos. Faleceu em 2019.