ACONTECE NA BBM: Exposição Lugares

Abertura 13 de outubro 2022, das 14h às 18h30
Visitação até 17 de novembro
segunda a sexta das 10h Às 18h
Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin
Rua da Biblioteca, 21, Cidade Universitária, São Paulo
SP

Clarival do Prado Valadares, num texto sobre o pintor Alberto da Veiga Guignard, fez distinção entre duas dimensões essenciais da experiência humana: viver no local/viver o local. A primeira diz respeito ao lugar concreto de nossa existência; a segunda, à paisagem poética, simbólica e afetiva que emerge de vínculos de pertencimento.

Mario de Andrade, em seu discurso “O modernismo”, ao descrever a gênese do poema “Paulicéia Desvairada”, relata: “(...) concebi imediatamente fazer um livro de poesias ‘modernas’ , em verso-livre, sobre a minha cidade”. O sentimento de pertencer ao lugar, expresso em seu depoimento, terá papel nuclear na obra de muitos artistas do período: além do próprio Guignard, Di Cavalcanti, Cicero Dias, Goeldi, Pancetti, Bonadei, entre tantos. Parafraseando uma afirmação de Paul Cézanne (“Vou ao Louvre procurar uma cor”), Di Cavalcanti teria dito, segundo relatos: “Vou à Rua do Catete procurar uma cor”. O papel catalisador do ambiente carioca em sua pintura revela-se aqui por inteiro, brilhantemente alegorizado.

Ao comemorarmos cem anos da semana de arte moderna, testemunhamos um tensionamento crescente na própria ideia de “pertencimento”. A desconstrução/reconstrução permanente de vínculos do ser humano com suas paisagens afetivas tende a tornar essa relação mais ambivalente, inapreensível, complexa e mutável. Nesse contexto, o fazer artístico apresenta-se como espaço de elaboração e ressignificação de vivências com o lugar.

A revisão de nossa herança modernista vem se processando de forma progressiva e permanente. A mostra LUGARES caminha nessa direção, ao jogar um pouco de luz sobre um artista ainda subterrâneo, desconhecido, que mirou a São Paulo de meados do século XX com o olhar voltado para a diversidade humana e para parcelas “humilhadas e ofendidas” da população: Douglas Norris (1923/2010). De tocante atualidade, essas gravuras nos trazem ecos de 22.

Os artistas reunidos no projeto LUGARES miram contextos nitidamente diversos entre si - uma tessitura de muitos Brasis, que brota a partir de relações poéticas viscerais, trazendo à tona lugares outros, além daqueles definidos pela geografia: o lugar da memória; o lugar imaginado; o lugar da vida cotidiana; o lugar do desejo, do sonho; o lugar dos afetos; o lugar do fluxo, da passagem; o não lugar. Um recorte expositivo que abre campo à reflexão sobre diferentes formas de pertencer e estar no mundo, na contemporaneidade.

Hélio Schonmann