A nova sala de trabalho da Biblioteca foi ocupada por profissionais de conservação e pelo público interessado em práticas de preservação de livros e documentos em papel
Publicado em 29/10/2025
Por Elena Souza
Na última semana, mais uma sala de trabalho foi inaugurada na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM). Trata-se do Ateliê Thereza Brandão, que, desde 2022, abriga equipamentos, ferramentas e materiais de trabalho da encadernadora e artista plástica. A inauguração foi marcada pela realização, em 22 e 23 de outubro, de duas Oficinas de Conservação Preventiva de Livros e Documentos em Papel, ministradas pela conservadora Andreia Teresinha Wojcicki Ruberti.
Os participantes das oficinas foram recepcionados por Jeanne Beserra Lopez, que integra a equipe do Serviço de Biblioteca e Documentação da BBM. Jeanne promoveu uma visita mediada na Sala de Grandes Formatos Cristiana Antunes, na qual apresentou a história da Biblioteca, de seu acervo e de seus doadores, o casal Mindlin. No primeiro dia de Oficina, 22 de outubro, a visita também foi acompanhada por Alexandre Saes, diretor da BBM, e Plínio Martins Filho, editor-chefe das Publicações BBM, que desejaram boas-vindas aos participantes e ressaltaram a importância de abrir as portas da Biblioteca e, dessa forma, disseminar o “vírus” do livro, assim como declarava José Mindlin. Na ocasião, representando o legado de Thereza Brandão, também estavam presentes o neto e os filhos da encadernadora, Tomás Brandão, Victor Brandão Teixeira e Laércio Brandão Teixeira, respectivamente.
Plínio Martins Filho, que também é professor do curso de Editoração na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, explicou questões relativas aos tipos de papel e encadernação, e tratou de alguns desafios enfrentados nas publicações de livros. Jeanne promoveu uma roda de conversa com os participantes e apresentou algumas obras do acervo, como exemplares dos atlas dos viajantes, indicando aspectos importantes a serem observados no livro como objeto a ser preservado.

Filho de Thereza Brandão, Laércio B. Teixeira, inaugura Ateliê que leva nome da mãe. Fotos: Isabela Gotsfritz/ BBM-USP
Após a visita, o grupo foi ao subsolo da Biblioteca, onde uma pequena mostra com fotografias, objetos pessoais e cartas de Thereza Brandão e Guita Mindlin pôde ser observada. Imersos na história de amizade e trabalho entre as duas conservadoras, os participantes seguiram para o Ateliê, que foi aberto pelo filho de Thereza e, pela primeira vez, recebeu o público. Andréia Teresinha Wojcicki Ruberti, conservadora responsável pelo Laboratório de Conservação Preventiva Guita Mindlin na BBM, recebeu os participantes e, após uma breve conversa de apresentação entre o grupo, deu início à oficina de higienização e pequenos reparos de livros e documentos em papel.
Andréia guiou os participantes pelos primeiros passos do processo de conservação, explicando, por exemplo, a importância dos equipamentos de proteção durante o manuseio dos materiais. Usando luvas, o grupo pôde partir para a parte prática de higienização dos materiais, etapa mais importante do processo de conservação, segundo Andréia, que destacou a poeira como um dos 10 agentes de degradação dos documentos em papel.

Andréia W. Ruberti ministra Oficinas na BBM. Fotos: Isabela Gotsfritz/ BBM-USP
A conservadora e os monitores Fábio e Carol, estágios do Laboratório de Conservação que acompanharam as oficinas, mostraram os pincéis e trinchas utilizados no processo de higienização e explicaram técnicas que podem ser utilizadas para limpeza, como, por exemplo, o pó de borracha, que deve ser aplicado em movimentos circulares nas superfícies com aderência de impurezas. Os grupos, participantes das Oficinas dos dias 22 e 23, também aprenderam técnicas para identificar e tratar a presença de fungos, asperos com aspecto esbranquiçado, e de agentes oxidantes, causadores de manchas que se expandem como estrelas, no papel.
Feita a higienização dos materiais sob supervisão de Andréia, com quem os participantes puderam esclarecer dúvidas, o grupo realizou pequenos reparos em livros e jornais. Os monitores ensinaram a produzir cola metil celulose e a usá-la com tiras de papéis para reparar páginas rasgadas. Andréia explicou que esse tipo de procedimento não deve ser realizado com fitas adesivas, por exemplo, que podem danificar ainda mais o papel. Ela destacou que a prevenção é a melhor estratégia para evitar a necessidade de uma intervenção futura.

Participantes da Oficina do primeiro dia. Fotos Isabela Gotsfritz/ BBM-USP

Participantes da Oficina do segundo dia. Fotos Elena Souza/ BBM-USP
Finalizadas as duas primeiras Oficinas no Ateliê, permanece na BBM o desejo de promover cada vez mais encontros como esses, que não apenas estreitam os laços entre a Biblioteca e o público, como também buscam honrar o legado de profissionais de grande importância para Conservação e Encadernação no Brasil. O Ateliê de encadernação Thereza Brandão está localizado ao lado do Laboratório de Conservação Preventiva Guita Mindlin, mantendo unidos, dessa forma, os legados das duas amigas e parceiras de trabalho.