Evento na Biblioteca Brasiliana celebra os 100 anos de Dalton Trevisan

Uma mesa-redonda e uma sessão de leituras vão abordar a trajetória e o legado do escritor

Publicado: 02/06/2025

Por Eliete Viana

Imagens do escritor na exposição Dalton Trevisan — Espião de almas – Foto: Julia Forner/BBM-USP

No dia 11 de junho, das 14h às 17h, no Auditório István Jancsó, do Espaço Brasiliana, a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM) da USP vai realizar o evento E agora, Dalton? — Homenagem aos 100 anos do escritor, em comemoração ao centenário de nascimento de Dalton Trevisan, que seria completado em 14 de junho.

O evento terá duas partes. Na primeira, às 14h, uma mesa-redonda marca os 100 anos de nascimento do autor e faz um balanço da sua trajetória e legado. “Agora que a oficina incansável se fechou, com a morte do homem Dalton Jérson Trevisan em dezembro de 2024, tem início a vida póstuma do autor”, destaca a organização do evento, composta pelos professores da USP Fernando Paixão, do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), e Hélio de Seixas Guimarães, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e vice-diretor da BBM.

A mesa-redonda contará com a participação de Eliane Robert Moraes, Fabiana Faversani e Flora Süssekind, que vão abordar as mais de oito décadas de vida literária e 36 livros publicados por Dalton Trevisan, o qual construiu um universo literário e um estilo inconfundíveis, com uma prosa cortante que percorre toda a escala que vai do grotesco ao lírico, de Curitiba ao cosmos, das piores misérias às maiores delícias da experiência humana.

E, na segunda parte, das 16h30 às 17h, vai acontecer uma sessão de leituras de cartas de Dalton Trevisan.

Da esquerda para a direita: Fabiana Faversani, editora, representante literária e gestora da obra de Dalton Trevisan - Foto: Mariana Maux/BBM-USP; Eliane Robert Moraes é crítica literária, professora de Literatura Brasileira na FFLCH-USP e pesquisadora do CNPq - Foto: Divulgação FFLCH/USP; Flora Süssekind trabalha como professora associada no curso de Estética e Teoria do Teatro do Centro de Letras e Artes da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) - Foto: Divulgação FLIP.

Trevisan nasceu em 1925, em Curitiba, no Paraná, e faleceu na mesma cidade, em 9 de dezembro de 2024.  Seu estilo singular e sua recusa de qualquer moralização conquistou prêmios e admiradores ao longo de sua carreira.

“Ainda que Dalton seja muito relacionado a Curitiba, e ele mesmo sugere isso em seus textos, na verdade se trata de um escritor universal. E que encontra os seus temas no cotidiano da cidade, mas com um olhar para a condição humana dos personagens. Sua obra ajuda a compreender aspectos perversos e líricos da realidade brasileira. A ser conhecida sim em todo o país”, ressalta Fernando Paixão, um dos organizadores.

O escritor recebeu o Prêmio Jabuti em 1960, por Novelas nada exemplares; em 1965, por Cemitério de elefantes; em 1995, por Ah, É?; e em 2011, por Desgracida. Em 2003, pelo livro Pico na veia, ganhou o Prêmio Oceanos, à época conhecido como Prêmio Portugal Telecom de Literatura. E, além desses, em 2012, foi vencedor do Prêmio Machado de Assis e do Prêmio Camões.

Exposição

A mesa-redonda e a sessão de leituras não é a única atividade que celebra o centenário de Dalton Trevisan na Biblioteca. Desde o dia 20 de maio, está em cartaz a exposição Dalton Trevisan — Espião de almas, que mostra a obra e a vida do autor através de livros da Coleção BBM, correspondências, recortes de jornais, entrevistas, livros raros, fotografias, diários, colaboração em periódicos, livros da biblioteca do autor com marginálias e documentos pessoais.

A exposição tem curadoria de Augusto Massi, professor de Literatura Brasileira da FFLCH; de Fabiana Faversani, editora, representante literária e gestora da obra de Dalton Trevisan; e de Chico Homem de Mello, que é designer, professor e pesquisador, e também é o responsável pela expografia. O público pode visitar a mostra até o dia 10 de agosto, de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 18h30, no Saguão e Sala Multiuso da BBM. Veja mais aqui.

Fabiana Faversani comenta sobre as ações programadas para manter o legado do autor e torná-lo mais conhecido para as novas gerações.

“Chegam às livrarias, em junho, os seis primeiros títulos da obra completa reeditada pela editora Todavia, uma antologia inédita organizada por Caetano W. Galindo e Felipe Hirsch e o ensaio biográfico de Christian Schwartz. As edições têm formato especial, além do estabelecimento dos textos, agora em sua versão final, novo projeto gráfico e trazem, ao fim de cada volume, a seção “Canteiro de obras” com material inédito (trechos de diários, cartas para amigos, bilhetes, desenhos). O Instituto Moreira Salles [IMS] prepara o lançamento de um documentário sobre o acervo do autor e está trabalhando para disponibilizá-lo à pesquisa em breve. Em Curitiba, além da temporada do espetáculo teatral Daqui Ninguém Sai, teremos diversos bate-papos sobre obra e autor, exposições e homenagens”.

Todas as informações sobre os eventos do centenário e divulgação da obra podem ser encontrados no perfil oficial do escritor no Instagram e nas páginas da editora Todavia.

99 anos

Em 12 de junho de 2024, a BBM, em parceria com o IEB e a Tinta-da-China Brasil, já tinha promovido uma homenagem ao escritor. A sua vida e obra foram destacadas com leituras de seus textos no evento que foi realizado dois dias antes de Trevisan completar 99 anos. As leituras foram feitas por Alcides Villaça (escritor e professor), Amara Moira (escritora), Andréa del Fuego (escritora), Reinaldo Moraes (escritor) e Rodrigo Lacerda (escritor), com mediação de Ana Lima Cecilio, curadora da 22ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que aconteceu em outubro daquele ano, com uma participação especial de Fabiana Faversani.

Durante a homenagem também teve o anúncio da doação à BBM de 21 traduções e 41 plaquetes que se uniram ao material de Trevisan já abrigado anteriormente — 36 publicações, sendo algumas primeiras edições, lançadas entre 1940 a 1990. E também ocorreu o lançamento do livro digital Dalton Trevisan: Uma literatura nada exemplar é uma parceria entre a Tinta-da-China Brasil e o IEB, o qual também teve organização de Paixão e Guimarães, fruto do Colóquio Dalton 90: Homenagem aos 90 Anos de Dalton Trevisan, ocorrido há 10 anos. Confira como foi o evento aqui.

Evento realizado em homenagem aos 99 anos do escritor Dalton Trevisan, pela BBM, em parceria com o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP e a editora Tinta-da-China Brasil, em junho de 2024 – Foto: Mariana Maux/BBM-USP

A editora Fabiana também foi a responsável pela organização e doação do Acervo Dalton Trevisan ao IMS, em 2024, e, no mesmo ano, pela incorporação de livros raros do autor à BBM; e integra o Conselho Editorial da edição da obra completa do autor pela Todavia, reedita livros fora de catálogo ou esgotados, organiza novas edições, exposições e antologias.

O vice-diretor da BBM, Hélio de Seixas Guimarães, que também é um dos organizadores do evento do dia 11, destaca a importância da Biblioteca ter recebido essas doações e como elas agregam ao seu acervo.

“As doações feitas pelo escritor em 2024, que incluem livros de sua autoria, caderninhos em xerox que o escritor mesmo produziu ao longo de décadas para distribuir entre amigos, traduções de livros seus para várias línguas, juntam-se aos materiais de sua autoria que já estavam presentes na coleção de Guita e José Mindlin, tornando a BBM uma referência para os estudos sobre Dalton Trevisan. Por se tratar de produção numerosa, produzida ao longo de mais de 80 anos, com numerosas edições e reedições, a obra de Dalton Trevisan tem um caráter um tanto labiríntico, e o fato de agora estar toda reunida em um só lugar facilitará o acesso a pesquisadores que desejem adentrar esse labirinto”.

Serviço

E agora, Dalton? — Homenagem aos 100 anos do escritor
Quando: 11/06, das 14h às 17h
Onde: Auditório István Jancsó, do Espaço Brasiliana
Rua da Biblioteca, 21 – Cidade Universitária, São Paulo
Quanto: Entrada gratuita