Publicado em 08/07/2025
Por Matheus Morigoni*
O cantor e compositor Vinicius de Moraes. Foto: acervo de família
Em 2025, completam-se 45 anos do falecimento de Vinicius de Moraes, ocorrido no dia 9 de julho de 1980, em sua residência na cidade do Rio de Janeiro, aos 66 anos. O poeta, dramaturgo, compositor, cantor e diplomata brasileiro, nasceu em 19 de outubro de 1913, na Gávea, também no Rio de Janeiro. Iniciou seus estudos na Faculdade de Direito no Rio, e posteriormente frequentou a Universidade de Oxford, onde se dedicou ao estudo da literatura inglesa. Reconhecido como um dos maiores poetas da língua portuguesa, publicou mais de 20 livros ao longo de sua vida, além de ter suas obras traduzidas para diversos idiomas.
Vinicius de Moraes durante sua infância e adolescência, e em sua formatura. Foto: acervo de família
A sua extensa obra poética encontra-se disponibilizada pelo acervo digital da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM) da USP: BBM Digital. O poeta, tendo visto boa parte do século XX, viveu transformações sociais, políticas e estéticas, materializadas em sua obra diversa e, ao mesmo tempo, singular. Assim, o “poetinha”, como era chamado por Tom Jobim (1927–1994), transitou entre a poesia (seu ofício maior, segundo o próprio), o teatro e a canção popular.Em 2010, 30 anos antes de a obra literomusical de Vinicius passar ao domínio público, a VM Empreendimentos Artísticos e Culturais cedeu os direitos para que a BBM pudesse disponibilizar seus livros on-line. A digitalização começou ainda em 2009, a partir do acervo de José Mindlin e conta com 15 títulos: O caminho para a distância (1933), Forma e exegese (1935), Ariana, a mulher (1936), Novos poemas (1938), Cinco elegias (1943), Poemas, sonetos e baladas (1946), Pátria minha (1949), Antologia poética (1954), Orfeu da conceição (1956), Livro de sonetos (1957), Receita de mulher (1957), Novos poemas II (1959), O mergulhador (1968), A casa (1975) e Um signo, uma mulher (1975).Através do levantamento feito pela área de comunicação do projeto Fluxo dos objetos digitais da BBM: da estante para os computadores de todo o mundo (conservação, biblioteca digital e comunicação na BBM) — do Programa Unificado de Bolsas de Estudo para apoio à formação de estudantes de graduação da USP (PUB) — , foram encontradas diversas publicações noticiando a parceria entre o legado poético de Vinicius e o acervo de Mindlin. Essas notícias não se encontram mais em circulação, mas foram recuperadas pelo projeto a fim de preservar estes fragmentos da memória literária do país.
À esquerda, dedicatória de 1937 no livro "O caminho para a distância", e, à direita, capa do livro "Poemas, sonetos e baladas" (1946)
A digitalização permite também conhecer o alcance e trajetória de uma das vozes poéticas mais marcantes do Brasil. Hoje, a estreia do poeta em O caminho para a distância nos parece realmente distante. Em seus versos encontramos a seguinte definição: “A vida do poeta tem um ritmo diferente — / É um contínuo de dor angustiante”. Quem poderia dizer que, décadas mais tarde, o mesmo poeta escreveria o “Samba da Benção”, onde ser alegre é melhor do que ser triste? Certamente o próprio Vinicius entendia essa mudança experimentada ao longo de uma vida, pois sabia estar “Preso, eternamente preso pelos extremos intangíveis”.Na edição digitalizada de Poemas, sonetos e baladas, além de poemas fundamentais da obra de Vinicius, como o “Soneto da fidelidade” (primeiro poema do livro) e o “Soneto da separação” (o último), encontram-se também 22 desenhos de Carlos Leão, feitos especialmente para o lançamento, em 1946. Na coleção também se encontram livros menos veiculados, como Um signo, uma mulher, no qual o poeta, com humor e lirismo, caracteriza doze mulheres a partir dos signos do zodíaco, valendo-se de métodos composicionais mais próximos de sua trajetória na música popular brasileira.A canção do poetinha se fixou no imaginário popular e suas parcerias com Tom Jobim, Toquinho e Baden Powell fariam dele uma figura central da música brasileira. Esta façanha, porém, não reduz seus feitos na poesia “convencional”, tendo sua obra elogiada pelo poeta Manuel Bandeira (modernista nascido 1886 e falecido em 1968):
— Trecho do texto Coisa Alóvena, Ebaente, publicado no livro Vinicius de Moraes: poesia completa e prosa, de 2004
À esquerda, Vinicius Moraes com Manuel Bandeira, e à direita, com Toquinho. Fotos: acervo de família
À esquerda, Moraes com Tom Jobim, e à direita, com Baden Powell. Fotos: acervo de família
Dessa forma, a BBM convida o leitor contemporâneo a conhecer o nosso maior poeta-compositor, cuja obra está longe de ser esquecida tão cedo.
Clique aqui para acessar a obra poética de Vinicius de Moraes da BBM digital.
*Bolsista do projeto PUB projeto Fluxo dos objetos digitais da BBM: da estante para os computadores de todo o mundo (conservação, biblioteca digital e comunicação na BBM) — do Programa Unificado de Bolsas de Estudo.
Fotos do acervo de família de Vinicius de Moraes, disponíveis no site oficial do poeta e compositor Vinicius de Moraes.