Após termos expressado nosso Manifesto, questionado o que somos, e entendido o re-voltar-se, nós criamos, assim, de modo consciente ou não, a malha no qual poderíamos nos sustentar para abordar com acuidade e responsabilidade sócio-histórica, os nossos Povos Originários. Este Boletim é o resultado. Foram mais de cinco meses de preparação, em trocas de emails, mensagens de WhatsApp, gravações, conversas e aulas. Para tanto, contamos com a vital curadoria de Xindêda (Diego) Puri e Betty Mindlin. Ele, um indígena e mestrando em Literatura Brasileira, engajado e consciente de sua atuação como indígena e acadêmico. Ela, uma antropóloga dedicada à justiça e valorização daS culturaS indígenaS, que mergulhou nas tradições e trouxe ao mundo não-indígena, entre outras coisas, sua Moqueca de Maridos. Sem estes, este boletim não teria surgido. A estes, em especial, a nossa gratidão. Agradeçemos com o mesmo apreço a artista plástica indígena Rosi Araújo que gentilmente nos cedeu diversas de suas obras para que pudéssemos trazer a nossa publicação um pequeno esboço da riqueza artística dos povos brasileiros.
Este é o Boletim 3X22: Pluralidades Indígenas. Conscientes da importância e da potencialidade do discurso da própria experiência, priorizamos as vozes indígenas para comporem este Boletim. Temos, então, mais à frente, Ailton Krenak com o Mito do Acampamento Garimpeiro, em uma condensação mítica, poética, ética e política de nossa trajetória até os desafios e reincidências em nossa atualidade. Sônia Guajajara em entrevista relatando que a luta pela vida indígena não abarca apenas a vida indígena, mas de todos os humanos que habitam esta Terra. Contamos com a colaboração do Prof. Iram Gavião nos trazendo e apresentando o Mito da Origem da Humanidade pelo povo gavião. Também, Betty Mindlin nos fazendo uma introdução do percurso pelos direitos indígenas, desde o antigo SPI, o CIMI e chegando aos desafios da FUNAI e das lideranças indígenas no novo contexto sócio-político brasileiro.
A Literatura e a Linguística também tiveram especial relevância em nosso Boletim. Afinal, a literatura foi porta-voz de discursos indigenistas que serviram para a criação de um imaginário popular que não correspondia, e nem corresponde, com a realidade vivenciada pelos povos. Convidamos a profª Mirhiane Abreu para abordar o índio alencariano e a proposta modernista de Mário de Andrade. O prof° Marcos Flamínio para abordar Gonçalves Dias. A profª Cilaine Alves para revelar os Movimentos Pendulares existentes no Romantismo Brasileiro. Estabelecendo um diálogo entre a produção literária desses dois últimos séculos, temos Daniel Munduruku na entrevista A Literatura não é Salvadora da Pátria. Xindêda (Diego) Puri em texto sobre a revitalização das línguas indígenas, em especial da língua puri.
Nossos desejos são de que este Boletim contribua com o debate acerca dos Povos Originários em nossa história e em nossa atualidade; de que ele toque seus leitores acerca da importância da defesa das culturas tradicionais dos Povos; e que, principalmente, seja uma leitura prazerosa, instrutiva e conscientizadora. Sendo assim, estejamos juntos nesta nestas páginas. Até mais.
Franklin Cordeiro Pontes e Norberto de Assis