Prêmios 3 vezes 22 de teses e dissertações: “Bicentenário da Independência do Brasil” e “Centenário da Semana de Arte Moderna”

Premiados: Centenário da Semana de Arte Moderna

Helaine Nolasco Queiroz (História/UFMG). O dilema cosmopolita versus nacional nas vanguardas latino-americanas: uma comparação entre a revista Martín Fierro e a Revista de Antropofagia (1924-1929).

Marina Mazze Cerchiaro (IEB/USP). Esculpindo para o ministério: arte e política no Estado Novo.

Thiago Gil de Oliveira Virava (ECA/USP). Um boxeur na arena: Oswald de Andrade e as artes visuais no Brasil, 1915-45.

Thiago Lenine Tito Tolentino (História/UFMG). Do ceticismo aos extremos: cultura intelectual brasileiro nos escritos de Tristão de Athayde, 1916-1928.

Comissão avaliadora: Antonio Dimas, Miguel Soares Palmeira, Erwin Torralbo Gimenez e Alexandre Macchione Saes.

Premiados: Bicentenário da Independência do Brasil

Arthur Ferreira Reis (UFES). Anarquistas e servis: uma análise dos projetos políticos do ano de 1826 no Rio de Janeiro.

Guilherme de Paula Costa Santos (FFLCH/USP). No calidoscópio da diplomacia: formação da monarquia constitucional e reconhecimento da Independência e do Império do Brasil, 1822-27.

João Paulo Peixoto Costa (Unicamp). Na lei e na guerra: políticas indígenas e indigenistas no Ceará, 1798-1845.

Michelli Cristine Scapol Monteiro (FAU/USP). São Paulo na disputa pelo passado: o monumento à independência de Ettore Ximenes.

Rafael Fanni Dias Resende (FFLCH/USP). Temporalização dos discursos políticos no processo de independência do Brasil, 1820-22.

Comissão avaliadora: João Paulo Pimenta, Cecilia Helena de Salles Oliveira, Iris Kantor e Alexandre Macchione Saes.

Resumos dos trabalhos premiados:

Centenário da Semana de Arte Moderna

Helaine Nolasco Queiroz (História/UFMG). O dilema cosmopolita versus nacional nas vanguardas latino-americanas: uma comparação entre a revista Martín Fierro e a Revista de Antropofagia (1924-1929)

Esta tese procura fazer uma análise comparativa entre duas revistas de vanguarda que circulam durante a década de 1920 no Brasil e na Argentina: a Revista de Antropofagia e a Martín Fierro. Procura-se examinar, nos dois periódicos, como se dá e é desenvolvida a tensão entre uma orientação cosmopolita e uma tentativa de identificar e promover as características mais autênticas das duas nações. As revistas são examinadas segundo suas características paratextuais, além de seu conteúdo, traçando-se uma análise em que texto, paratexto e contexto são imprescindíveis para entender as propostas ao mesmo tempo nacionalistas e cosmopolitas das vanguardas antropófaga e martinfierrista.

Marina Mazze Cerchiaro (IEB/USP). Esculpindo para o ministério: arte e política no Estado Novo

Durante a gestão de Gustavo Capanema, ergueu-se o edifício-sede do Ministério da Educação e Saúde (MES). Visando atribuir à construção de orientação “moderna” caráter nacional, foram encomendadas várias obras de arte, entre elas um conjunto de esculturas, produzido entre 1937 e 1941, por Celso Antônio de Menezes, Adriana Janacópulos e Bruno Giorgi. Por meio da análise dessas esculturas, esta dissertação investiga as tentativas de figurar o ideal do “homem novo” empreendidas por políticos, intelectuais e artistas ligados ao MES. Buscamos compreender o que essas obras, como fontes, podem revelar acerca dos discursos sobre raça, gênero e nação do período.

Thiago Lenine Tito Tolentino (História/UFMG). Do ceticismo aos extremos: cultura intelectual brasileiro nos escritos de Tristão de Athayde, 1916-1928

Esta tese aponta para um processo geral pelo qual a cultura intelectual brasileira teria passado entre as décadas de 1910 e 1930. Especialmente, ressalta-se a ascensão de perspectivas contrárias aos princípios da Constituição republicana de 1891 que passa a ser vista como ultrapassada e decadente, notadamente após a Primeira Guerra Mundial, a Revolução Russa e o advento do fascismo italiano. Neste sentido, a trajetória intelectual e biográfica do crítico literário Tristão de Athayde (Alceu Amoroso Lima) é bastante expressiva. Nele revela-se tal processo geral em variadas esferas que compõem a complexidade da cultura intelectual brasileira: os debates culturais, as avaliações acerca do noticiário internacional, as análises políticas, as reflexões críticas sobre identidade nacional e a cisão de um país dividido entre sertão e litoral, as disputas em torno da arte moderna brasileira, as discussões sobre o papel da religião no interior da sociedade, os embates sobre os direitos e as questões de gênero, as reflexões acerca do melhor regime político para o Brasil etc. “Do ceticismo aos extremos” revela como muitos desses tópicos deixaram de ser tomados segundo perspectivas plurais e relativamente democráticas em função de visadas totalizantes em que o horizonte revolucionário e a utilização da violência para a consecução dos objetivos políticos tornaram-se uma verdade quase banal.

Thiago Gil de Oliveira Virava (ECA/USP). Um boxeur na arena: Oswald de Andrade e as artes visuais no Brasil, 1915-45

O presente estudo investiga a posição das artes visuais na experiência intelectual e criativa do poeta e escritor modernista Oswald de Andrade (1890-1954). São analisados não apenas seus textos sobre arte, mas também a presença das artes visuais nos livros de poesia Pau Brasil (1925) e Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade (1927), assim como nos romances Os Condenados (1922-1934) e Marco Zero (1943-1945). Também são discutidas as relações que o escritor manteve com artistas brasileiros e estrangeiros, além de sua participação em situações importantes envolvendo as artes visuais no país, como a Semana de Arte Moderna; a primeira exposição de Tarsila do Amaral no Brasil; o Clube dos Artistas Modernos; os Salões de Maio. A proposta é averiguar como Oswald de Andrade atuou em um período importante para a história da arte moderna no Brasil, especialmente na cidade de São Paulo, compreendendo as décadas de 1910 a 1940, que são as balizas cronológicas adotadas, tomando-se como referências o texto “Em prol de uma pintura nacional”, publicado em 1915, e o romance Marco Zero II: Chão, publicado em 1945. Singulares do ponto de vista da escrita e das estratégias discursivas que mobilizam, os textos de Oswald de Andrade que discutem as artes visuais revelam um pensamento em constante movimento e atento ao que entendia serem as demandas de uma época de transformações e de luta pela construção de uma sociedade menos opressora, na qual as artes ocupavam posição estratégica. Com base na investigação desse material, defende-se aqui que as artes visuais foram um elemento constitutivo de sua experiência intelectual e criativa, não ocupando uma posição secundária em relação à sua atuação como escritor, poeta e jornalista polemista.

Bicentenário da Independência do Brasil

Arthur Ferreira Reis (UFES). Anarquistas e servis: uma análise dos projetos políticos do ano de 1826 no Rio de Janeiro

O início do século XIX, no Brasil, foi marcado pelo surgimento dos primeiros jornais. Criados no momento de intensa agitação política causada pela vinda da família real, pela instauração do liberalismo através da Regeneração do Porto e pelo processo de independência, esses jornais contribuíram para o fortalecimento da opinião pública no Brasil. Porém, em detrimento do crescimento do número de jornais, a repressão sobre os atores dos espaços públicos brasileiros levada a frente pelo governo de D. Pedro I acabou causando a retração no debate público. Entre 1824 e 1826, principalmente, o número de jornais fluminenses foi extremamente reduzido. Nesse período, principalmente em 1825, o grupo político áulico se destacou como defensor do governo pedrino e empreendedor de uma linguagem política que buscava alçar o Imperador como o soberano do Brasil. Todavia, se em 1825 os áulicos conseguiram levar a frente esse projeto sem grandes problemas, em 1826 a imprensa fluminense conheceu o surgimento de dois jornais oposicionistas que, novamente, agitaram o debate político. Nesse processo, autores e facções políticas, mais especificamente os “anarquistas” e os “servis”, disputaram o apoio do povo, atacando seus adversários e defendendo seus projetos políticos. Atento a isso, esse trabalho analisa os projetos políticos dos jornais O Verdadeiro Liberal, Spectador Brasileiro e algumas publicações de jornais interlocutores como Abelha do Itaculumy, Atalaia da Liberdade, Diário Fluminense, O Universal e O Triumpho da Legitimidade, além de três panfletos publicados durante 1826. O objetivo principal desta pesquisa sustentando a existência de uma linguagem política áulica e de um projeto radical no Rio de Janeiro durante o ano de 1826.

Guilherme de Paula Costa Santos (FFLCH/USP). No calidoscópio da diplomacia: formação da monarquia constitucional e reconhecimento da Independência e do Império do Brasil, 1822-27

Este estudo analisa as negociações diplomáticas para o reconhecimento da Independência e do Império do Brasil, entre 1822 e 1827. Parte-se da hipótese de que, antes de expressarem uma política coesa e consensual, emitida pelo ministério do Rio de Janeiro, as tratativas diplomáticas sobre o reconhecimento tiveram enorme relevância na definição da arquitetura da monarquia constitucional, sugerindo práticas políticas e indicando contornos institucionais para a organização do Império do Brasil. A partir do cotejamento de fontes diplomáticas, produzidas pelos governos das Cortes de Lisboa, de Londres e do Rio de Janeiro, muitas das quais pouco conhecidas ou mesmo inéditas, foi possível reavaliar o papel desempenhado pelos ministros de Negócios Estrangeiros e agentes diplomáticos dispostos nos três vértices do Atlântico; identificar avaliações políticas distintas no interior do governo de Pedro I; e problematizar a premissa de que, após a declaração de Independência e de separação de Portugal, havia na antiga América portuguesa um Estado estruturado e organizado, herdeiro direto das ações promovidas pelo governo de D. João VI, entre 1808 e 1821.

João Paulo Peixoto Costa (Unicamp). Na lei e na guerra: políticas indígenas e indigenistas no Ceará, 1798-1845

A promulgação da Carta Régia de 1798, que revogou o Diretório dos Índios, não resultou em qualquer efeito em território cearense. Quando a lei pombalina foi finalmente extinta no Ceará em 1845, cedeu lugar ao Regulamento das Missões, que se tornou a primeira lei indigenista geral do império brasileiro. No contexto de crise do Antigo Regime e formação do Estado nacional, as relações sociais mudaram em consonância com redefinições da condição jurídica dos indígenas e com uma série de conflitos armados. A legislação produzida nessa conjuntura recebe destaque neste estudo por ter sido um dos definidores dos confrontos entre políticas indígenas e indigenistas em torno da caracterização do lugar social dessas populações. Por meio dela é possível analisar as transformações da condição política dos índios no Ceará, considerando a relação entre as leis e os índios, a passagem da categoria de súditos da Coroa portuguesa para a de cidadãos brasileiros e suas implicações nas reivindicações dos índios relativas à sua própria condição jurídica e na sua participação em eventos militares. São questões centrais na análise: a situação de permanência do Diretório em território cearense no século XIX; o contexto legal do período de formação do Estado nacional brasileiro e a relação dos índios com o arcabouço normativo; as variadas formas de classificação dos índios e gentios na legislação indigenista de Portugal e do Brasil. A questão bélica tem igual evidência e é focalizada na segunda parte da tese. A defesa sempre foi uma das principais funções das populações indígenas integradas no corpo social do império português. Mais do que meros soldados recrutados a serviço do Estado (lusitano ou brasileiro), era na guerra, assim como na lei, que os índios se posicionavam nos eventos de conflito político e manifestavam seus interesses e expectativas. Têm destaque neste estudo o recrutamento militar indígena, a legislação referente ao tema e a agência política dos oficiais índios; o envolvimento militar indígena no contexto da independência e nas revoltas liberais oitocentistas; as transformações da relação dos índios com as Coroas lusitana e brasileira, com o liberalismo e com o antilusitanismo a partir de suas experiências.

Rafael Fanni Dias Resende (FFLCH/USP). Temporalização dos discursos políticos no processo de independência do Brasil, 1820-22.

Este trabalho analisa a configuração de formas discursivas no Rio de Janeiro à época da Independência do Brasil (1820-1822). Ao direcionar as atenções para a imprensa periódica e panfletária desse período, pretende-se investigar o processo de temporalização de discursos políticos e suas implicações na relação entre as experiências do tempo histórico e a consecução da mudança política. Para tanto, a dissertação volta-se para o estudo de conceitos, linguagens, metáforas e expressões conformadoras de uma tessitura linguística na qual o tempo histórico era o eixo de performances discursivas atuantes no processo de Independência. Assim, a partir dos elementos em questão, defende-se a tese de que a temporalização dos discursos políticos se articula, bem como se retroalimenta de uma nova dinâmica histórica, na qual, entre fins do século XVIII e início do século XIX, um espaço de experiência revolucionário moderno vinha sendo formado.

Michelli Cristine Scapol Monteiro (FAU/USP). São Paulo na disputa pelo passado: o monumento à independência, de Ettore Ximenes.

Esta tese analisa o processo de estabelecimento do Monumento à Independência como “lugar de memória” da emancipação política brasileira. Criada no contexto das comemorações do Centenário da Independência, a obra tornou-se elemento central dos festejos paulistas e revelou-se como um projeto de afirmação da cidade de São Paulo como centro simbólico do país, num embate evidente com a cidade do Rio de Janeiro na criação de uma história oficial brasileira. A trajetória dessa obra foi reconstituída, desde as primeiras intenções de edificação de um monumento no Ipiranga, ocorridas no período imperial brasileiro, até a inauguração do que ali se fez, em 1923. Analisou-se processo de escolha da obra, selecionada por meio de um concurso público internacional, examinando os debates em torno do edital, os projetos concorrentes e as críticas publicadas na imprensa em relação aos diferentes projetos. Constatou-se a importância de se ter selecionado o projeto de Ettore Ximenes, um artista italiano de grande reconhecimento profissional, como uma estratégia de consagração nacional e internacional do novo monumento paulista. Foram evidenciados os paralelos e sinergias entre os temas dos conjuntos escultóricos e relevos do Monumento à Independência com a exposição do Museu Paulista criada por Affonso Taunay para a comemoração de 1922, convergência favorecida pelo fato de que o historiador atuara simultaneamente como membro da comissão julgadora do concurso e diretor da instituição museológica. Além da obra escultórica e da exposição histórica, o projeto de consagração da colina do Ipiranga previa também o estabelecimento de um eixo urbano monumental, pontuado por esculturas e áreas ajardinadas, que ligaria o conjunto histórico ao centro da cidade. As intenções celebrativas da elite dirigente paulista, no entanto, foram impactadas pela incompletude do monumento e das obras a ele relacionadas em 1922 e pela diminuta repercussão que a inauguração do Monumento à Independência obteve na imprensa nacional e internacional.