Mulher é desdobrável: este foi o mote e o processo de amadurecimento desta edição. Se polytropos fora o epíteto de um herói circunscrito no masculino, aquele de muitos caminhos - geográficos e retóricos -, em nosso presente se faz justo se conjugado às mulheridades possíveis: hoje estas têm maior mobilidade no espaço e domínio discursivo, podem invocar a si mesmas como musas e cantar os próprios feitos heroicos e de suas pares. Um heroísmo que também está na ordem do cotidiano, muitas vezes sem glórias reconhecidas e carregado de desigualdades. O caráter desdobrável evocado por Adélia Prado, que inaugura seu célebre livro Bagagem, traduz bem a potencialidade criativa, discursiva e estratégica do conjunto mulheridades em subverter a hostilidade social ainda persistente e produzir novos saberes, oferecer resistência e diferentes formas de existência, e então possibilitar outras vivências de fruição nesse mundo.
Cada escolha feita nesta curadoria foi um fragmento, uma dobra recortada, como inevitavelmente deve ser um recorte temático. Buscou-se recolher subjetividades femininas atentando tanto para quem fala quanto de quem ela fala. Este boletim é uma soma parcial de dobras textuais que, com as singularidades destas, pretende atravessar a diversidade da existência humana sob a identidade de mulheres cis, trans e travestis. Neste sentido, objetivando dialogar com outras referências para além das presentes nos textos, as seções desta edição foram intituladas a partir de versos poéticos de autoria feminina em homenagem a personalidades contemporâneas.
Este é o Boletim 3x22 de nº 6, uma rede cosida de mulheridades dialógicas e tensionáveis, permitindo o debate entre seus próprios fragmentos, pois qualquer pretensão de generalizar uma identidade homogênea seria inverossímil e falha. Que este Boletim possa estender a polifonia de sua composição à experiência diversa de suas leitoras e leitores!
Errata: Diferentemente do que foi informado na página 15 deste Boletim, a quantidade total de itens do acervo reunido pelo casal Mindlin é estimada em cerca de 60 mil volumes, sendo a maior coleção brasiliana formada por particulares.